Por: Taylan Santana Santos
Todo está cargado en la memoria
Arma de la vida y de la historia
La Memoria. León Gieco
No sertão nordestino encontram-se fincadas em nossas raízes inúmeras memórias de martírios. Zumbi e Dandara dos Palmares, Antônio Conselheiro, Lampião e Maria Bonita, Carlos Lamarca e Zequinha Barreto foram alguns daqueles que, pela força da tirania e da opressão, foram cravados no chão da nossa terra. Mas como diria Che, “os poderosos podem matar uma, duas ou três rosas, mas jamais conseguirão deter a primavera inteira”. Tal convicção se reflete no curso da atual “celebração dos mártires” na região de Brotas de Macaúbas/Ipupiara, em sua vigésima segunda edição, cinquenta e dois anos após o terrorismo da Operação Pajussara perpetrado pela ditadura militar no Brasil.
Participar da celebração às vítimas da Operação Pajussara na Bahia é um reencontro com a nossa própria História, cuja miríade de memórias se deslinda nos traumas e emoções despertadas pelo martírio. Visionariamente demarcado como lugar de resistência por Olderico Campos Barreto- único sobrevivente do massacre no Buriti Cristalino, o terreno que Zequinha e Lamarca foram abatidos no povoado de Pintada/Ipupiara, tornou-se um espaço litúrgico em menção aos tombados pela repressão do Estado, celebrados por Dom Luís Flávio Cappio, o bispo dos pobres e oprimidos, como “mártires” que deram sua vida em favor da liberdade do seu povo.
Em um Brasil contemporâneo colapsado pelas fraturas dos negacionismos e golpismos, evocar a história dos “mártires” é crucial para a imperiosa tarefa de não permitir que o passado ditatorial seja esquecido, tampouco que as memórias das vítimas se percam no meio do caminho. Afinal de contas, como nos adverte o filósofo Walter Benjamin, perseguido pelo nazismo, “o dom de despertar no passado as centelhas da esperança é privilégio exclusivo do historiador convencido de que também os mortos não estarão em segurança se o inimigo vencer. E esse inimigo não tem cessado de vencer”.
Destarte, resgatar a história dos martírios em nosso sertão é fortalecer o espírito de um povo que não se curva diante da opressão, pois “o sertanejo é antes de tudo um forte”, tal como atestou o grande escritor Euclides da Cunha em Os Sertões. Por fim, se o eminente papel do historiador é relembrar aquilo que a sociedade quer esquecer, nos mantemos firmes e resistentes em nossa vocação política, qual seja: lutar pela verdade e justiça no Brasil, tendo as memórias do martírio, como “armas de la vida y de la historia”.
Texto escrito por Taylan Santana Santos
Doutorando em História (UFRN); Mestre em História (UNEB); Especialista em Metodologia Científica (IF Baiano); Historiador (UEFS). Pesquisador da História da Ditadura militar e participante da “Celebração dos Mártires” em Brotas de Macaúbas e região. Contato: taylan.santana.055@ufrn.edu.br; (75) 98265-5363 (WhatsApp).
Da Redação, 25/09/2023
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