GILVAN É UM SÍMBOLO DE RESISTÊNCIA QUE MUITO NOS ENSINA
Brotas sempre foi reconhecida como lugar de vanguarda no tocante à sua população, sendo essa proativa e afeita ao desponto recorrente às novidades surgidas ao longo do tempo. De políticos a intelectuais, de artistas a comerciantes, na terrinha o protagonismo é imperativo e a irreverência do seu povo é o cartão de visita aos visitantes. Longe de qualquer ufanismo, por aqui a alegria é uma marca constante e tem o papel de camuflar as mazelas vivenciadas por inúmeros brotenses na lida do cotidiano.
Nesse sentido, talvez não haja alguém mais encaixado a essa dura realidade que nosso prezado Gilvan. Dono de uma personalidade descontraída, por onde chega provoca alegria, cativando o riso e dando vazão ao sentimento de liberdade conservado tão naturalmente. Para ele, a simplicidade da vida se mostra nas pequenas ações; como numa brincadeira entre amigos ou no jogo de futebol com os meninos. Tais aspectos atestam a resiliência contida em uma existência comprovadamente adversa.
Por outro lado, por trás do sorriso fácil esconde uma luta contínua e injusta pela sobrevivência. A certeza de ter as três refeições não lhe é assegurada e depende, muitas vezes, da solidariedade de terceiros. E por mais esses sejam sensíveis à causa, reformando, inclusive, sua casa, ele enfrenta uma série de dificuldades para seguir lutando. À margem do sistema previdenciário, Gilvan agarra-se na generosidade das pessoas e nos trabalhos aleatórios surgidos vez ou outra para manter-se ativo.
Assim como ele, muitos vivem o mesmo dilema sem terem a chance de sentirem acolhidos. Ainda existem aqueles passivos ao desequilíbrio mental e esquecidos pelas famílias. Como não lembrar de Matilde e Celim? Vagavam famintos pelas ruas da cidade totalmente alheios a tudo. Impingem-se a esses indivíduos um abandono cruel; orquestrado tanto pelo Estado quanto pela sociedade civil, sendo-lhes negados os direitos mais básicos inerentes a um ser humano.
Essa conjuntura confirma a sensação de negligência experimentada por esses atores frente ao poder público. A Secretaria de Assistência Social, em tese, seria a responsável em atenuar a situação, reparando os danos e oferecendo um pouco de dignidade aos envolvidos. Contudo, seu expediente ainda é insuficiente para vermos uma mudança significativa. Bem verdade, os programas de distribuição de renda melhoraram o cenário de extrema pobreza antes observado; mas há um longo caminho para se percorrer rumo ao combate à desigualdade social.
Enquanto o momento ideal não os arrebata, Gilvan e os demais seguem resistindo às vicissitudes diárias estampando em cada ação realizada a resistência peculiar do brasileiro forte e aguerrido. E por mais que isso tudo seja imperceptível por eles próprios, de maneira alguma invalida o grande esforço empreendido e a beleza simbólica demonstrada em cada gesto, oferecendo-nos uma reflexão séria de como devemos nos portar diante das atribulações.
Por fim, talvez a mais importante lição encontrada no comportamento de Gilvan seja exatamente nosso compromisso com as coisas leves da vida. Um sorriso esticado é capaz de encolher qualquer problema, já dizia o autor. Óbvio que ele sozinho não é capaz de trazer comida à mesa, de proporcionar uma residência bela ou fazer alguém rico; entretanto, cá entre nós, existe a possibilidade de conseguir tudo isso somente sendo amargo e vivendo com a cara amarrada? É uma questão de escolha; e Gilvan escolheu batalhar tendo como aliada uma expressão feliz em seu semblante.
Fotos Reprodução
Da redação, 02/02/2021
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