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sexta-feira, 3 de junho de 2022

BROTAS DE MACAÚBAS: A BICENTÁRIA FESTA DO DIVINO ESPÍRITO SANTO






A BICENTÁRIA FESTA DO DIVINO ESPÍRITO SANTO


Com setecentos anos de existência no ocidente, a festa do Divino Espírito Santo vem emocionando multidões mundo afora e, a cada ano, renova a fé dos seus devotos. O inicio teve-se em Portugal, século XIV, por intermédio da rainha Isabel, a qual decidiu comemorar com uma festa a construção da igreja do Espirito Santo, na cidade de Alenquer. Daí adiante, o festejo se espalhou por todo o país rompendo fronteiras e se instalando em outros domínios lusitanos.

 

Em terras brasileiras, há registros, em 1723, dando conta da realização da festa do Divino pelos primeiros exploradores. O governador da época, da Capitania de São Paulo, João Morais de Navarro, em uma de suas cartas, iniciava a missiva assim:  "Indo ter à festa do Santíssimo Espírito Sancto a Vila de Jundiahy [...]". O excerto mostra que a tradição do festejo já se enraizava no então Brasil Colônia; e daí em diante para não mais se extinguir

 

A constituição da festa ganhou adaptações ao passar dos anos, mesmo mantendo a essência pretérita do seu nascedouro. Basicamente, ao término da Idade Média, montava-se coretos e palanques nas ruas onde uma criança – filho da nobreza -  era escolhido para o ser o imperador do Divino. A ele era concedido, entre outras benesses, o poder de até libertar prisioneiros e capturar prendas a seu gosto. Com um assento de majestade, o imperador clamava por suas vontades a serem atendidas pelos devotos, numa espécie de realeza fictícia.

 

Para conseguir dinheiro a fim de contemplar os desejos do mandatário, os beatos reuniam-se em grupos e visitavam as casas da região em busca de donativos. Eles carregavam consigo a Bandeira do Divino que figurava uma pomba branca ao centro da flâmula, símbolo esse que retrata o estandarte da festa.  Nos dias atuais, inúmeras cidades festejam a festa do Divino, de Norte ao Sul, entre elas está Brotas de Macaúbas, talvez àquela onde o povo tem maior devoção.

 

Em Brotas, há mais de dois séculos vê-se os festejos ocorrerem anualmente, em um rito católico datado cuja história remonta o desenvolvimento do próprio município. Estima-se que os descendentes portugueses, oriundos da região dos Açores, difundiram à festa em terras de outeiros. A freguesia cresceu, se emancipou e a esse passo a festa também se expandiu e cristalizou-se como a principal tradição do povo brotense.

 

Tendo inicio no domingo de páscoa, com a fincada do mastro, no qual tem uma bandeira posta em seu cume, e culminando no seu auge, cinquenta dias depois, justamente em Pentecostes, a festa do Divino movimenta os quatro cantos da região.  Nesse ínterim, o imperador e sua comitiva visita todo o município levando a Bandeira e recolhendo as ofertas. Em cada morada que adentra, a ladainha das esmolas ecoa causando muita emoção na família anfitriã.

 

Um dia antes do domingo de Pentecostes, no qual é celebrado a missa solene, com a presença do bispo da diocese, uma cavalaria toma conta da principal rua da cidade. À frente, o imperador comanda o cortejo exibindo a Bandeira do Divino. Mais tarde, antecedendo a última noite do novenário do Divino, o capitão, ou a capitã do mastro, com dezenas de pessoas o(a) seguindo, em meio ao foguetório, sai em procissão com o objeto simbólico - e bastante enfeitado - até fixá-lo de fronte à igreja Matriz.

 

Muitos criticam a descaracterização que a festa sofreu ao longo dos anos, sobretudo na mistura da religiosidade com o lado profano. O consumo de álcool, por exemplo, durante à cantoria das esmolas, contraria o caráter sacro do evento. Há também protestos em relação às atrações musicais promovidas pelo poder público, pois, na visão dos críticos, esse tipo de consórcio se torna desnecessário, uma vez que desvirtua a natureza do festejo do Divino.

 

Certo mesmo é a força da fé encontrada em cada brotense e que se espelha ao encontro do Divino. É também o momento de reencontrar os amigos e a família por aqueles que moram longe, de partilhar coisas boas e de refazer os laços. A história de Brotas se confunde com a Festa de Pentecostes, em uma espécie de simbiose de pura devoção e luta do sertanejo crente em dias melhores. A Bandeira é o símbolo materializado da fé e que, ano após ano, se renova no intuito de manter viva essa tradição bicentenária.

 


LADAINHA DAS ESMOLAS          VERSOS CANTADOS SOMENTE NA IGREJA

É chegada em vossa casa                     Deus vos salve a casa santa
Uma formosa bandeira (bis)                 Onde Deus fez a morada (bis)         
E nela vem retratada                           Onde mora o cálice bento               
Uma pomba verdadeira (bis)                E a hóstia consagrada (bis)

Divino Espírito Santo
Em vossa morada entrou (bis)
Vem correndo a freguesia
Visitando os morador (bis)

Essa pomba que aqui vem
É de Deus muito louvada (bis)
São as mesmas três pessoas
Da Santíssima Trindade (bis)

Vem pedindo a sua esmola
Que muito carece dela (bis)
Para serem festejadas
Dentro de sua capela (bis)

Divino Espírito Santo
Dono do Sol que nos cobre (bis)
Ele é dono do tesouro
Pede esmola como pobre (bis)

Ele pede é por pedir
Mas não é por carecer (bis)
Pede para experimentar
Quem seu devoto quer ser (bis)

Divino Espírito Santo
Divino consolador (bis)
Consolai as nossas almas
Quando desse mundo for (bis)

Quem se benze com a bandeira
Desse Divino Senhor (bis)
Benze Deus na sua graça
Dentro do seu resplendor (bis)

Quem dá esmola a esse santo
Não repara o que vai dar (bis)
Seja dez reais ou vinte
Fica mil em seu lugar (bis)

Deus lhe pague a esmola
Deus lhe dê muita saúde (bis)
A esmola é caridade
A caridade é virtude (bis)

Deus lhe pague a esmola
Se vos derem com grandeza (bis)
Deus permita que por ela
No reino do céus se veja (bis)


Imagem da Internet 

Por Rôney Araújo

Da Redação, 03/06/2022

 

BROTAS DE MACAÚBAS: A BICENTÁRIA FESTA DO DIVINO ESPÍRITO SANTO
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