50 ANOS DO MASSACRE DO BURITI CRISTALINO
50 ANOS DA MORTE DE LAMARCA E ZEQUINHA
21 ANOS DE CELEBRAÇÃO DOS MÁRTIRES
Por Wanderley Rosa Matos
“Da ditadura nos lembramos com nojo e Indignação”.
CINQUENTENÁRIO
Ao completar 50 anos do Massacre do Buriti Cristalino, ocorrido em 28 de agosto de 1971, e, do assassinato do Capitão Carlos Lamarca e José Campos Barreto - Zequinha, em 17 de setembro de 1971, a Igreja Católica reunirá nas comunidades de Buriti Cristalino e Pintada, dezenas de católicos, oriundos da Diocese de Barra, em especial das Paróquias de Nossa Senhora de Brotas (Brotas); Nossa Senhora da Piedade – (Cocal/Brotas), Paróquia de Nossa Senhora das Oliveiras (Oliveira dos Brejinhos) e Paróquia de São José – (Beira Rio /Oliveira dos Brejinhos) e Paróquia de São João Batista (Ipupiara) e para a realização desta que é a 21ª Celebração dos Mártires, organizada pela Diocese.
DUAS CELEBRAÇÕES
Neste ano, serão dois momentos distintos. O primeiro, a Santa Missa na Capela de São Sebastião do Buriti Cristalino, que acontecerá no dia 17 de Setembro, as 10:00h da manhã, na comunidade de Buriti Cristalino - Brotas, local que foi palco do aterrorizante Massacre do dia 18 de outubro de 1971, o qual culminou com a morte de Antônio Luiz Santa Bárbara, e Otoniel Campos Barreto e, Olderico Campos Barreto sobreviveu baleado, no rosto e na mão. O segundo momento, também acontecerá no dia 17 de setembro, as 15:00h, na comunidade de Pintada, município de Ipupiara, com uma caminhada que tem inicio na igreja de São Sebastião e se dirige ao Memorial dos Mártires, local onde acontecerá a celebração da Santa Missa, no exato local onde no dia 17 de setembro de 1971, o Capitão Carlos Lamarca e José Campos Barreto, o Zequinha forram abatidos pelas forças do Exército Brasileiro.
PANDEMIA
Por
conta da pandemia, as celebrações
serão realizadas sem aglomeração de pessoas, tomado os cuidados recomendados
pelas autoridades sanitárias, no entanto terão transmissão via página da
Paróquia de Nossa Senhora de Brotas, no Facebook, https://www.facebook.com/PascomBrotas/.
OS MÁRTIRES
Para a Igreja Católica, representada pela Diocese de Barra, na pessoa de seu pastor e Bispo Diocesano, Dom Luiz Flávio Cappio, são mártires todas as pessoas que entregaram a sua vida por uma causa justa. Assim, ao longo da história, muitos mártires – homens e mulheres de valor – tombaram pela causa do Reino de Deus, da Justiça, da Democracia, da Reforma Agrária, morreram defendendo uma vida digna para todos.
“Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos que ama” – Jo. 15, 13).
Então nas duas celebrações programadas para o quinquagésimo ano da morte de quatro dos seis mártires da Diocese, serão homenageados, da luta pela Reforma Agrária, JOSAEL DE LIMA, o Jota, que morreu na cidade de Barra, assassinado por grileiros e MANOEL DIAS de Muquém do São Francisco, também morto por grileiros; Da luta contra a Ditadura Militar, dos anos 70, o Professor LUIZ ANTÔNIO SANTA BARBARA, OTONIEL CAMPOS BARRETO, assassinados em Buriti Cristalino – Brotas de Macaúbas e o Capitão CARLOS LAMARCA e JOSÉ CAMPOS BARRETO, O “ZEQUINHA” assassinados em Pintada - Ipupiara, quando em fuga,voltavam de Ibotirama para Brotas onde pretendiam conseguir uma assistência médica.
A CAPELA DO BURITI E O MEMORIAL
A Capela do Buriti Cristalino foi construída em meados dos anos 40, durante o ciclo do Cristal de Rocha, quando o Senhor José de Araújo Barreto e Dona Nair Campos, pais de Olderico, Zequinha e Otoniel, em mutirão com os moradores da localidade construíram a capela e escolheram São Sebastião como padroeiro do lugar, sendo que a capela a pouco tempo foi restaurada pela comunidade.
Já o memorial dos mártires, local da segunda missa, foi construído, pelo bispo da Diocese de Barra, Dom Luiz Flávio Cappio, em 2013, exatamente no mesmo lugar onde Capitão Carlos Lamarca e Zequinha Barreto tombaram mortos, e chama a atenção por estar construído em meio a caatinga rala e seca, onde predominam uma das árvores de madeira mais dura e forte, da flora brasileira, a Baraúna, o cenário parece querer dizer: “Meus filhos morreram, os seus desejos não. Portanto não se engane a me ver seca, suja de sangue, estou viva, gerando novas vidas”, é traz para o centro da Igreja católica um espaço para a releitura da história das lutas enfrentadas pelos mártires, e o direito a memória e a verdade, ao tempo que aponta para a necessidade da união e de constantes lutas em busca da vida, vida plena e abundante.
O memorial foi pensado como um espaço democrático destinado a dar suporte às lutas do povo da Diocese estão os restos mortais de alguns dos mártires e os seus respectivos bustos.
O memorial é o local que por si só conduz a reflexões sobre a vida, as lutas cotidianas, e a perseguição implacável sofrida pelos que usam - “Ousar Lutar, Ousar Vencer”
AMIGO NA VIDA, AMIGO NA MORTE
Nele chama a atenção escultura central, que retrata Zequinha Barreto carregando, em seus ombros, o Capitão Carlos Lamarca, obra do artista plástico Carlos Roldão, representando uma passagem da trajetória de busca a uma assistência médica, em Brotas, quando escuta o Capitão Lamarca sugere ao companheiro: - “Zequinha me deixe aqui, vá embora sozinho, ao menos você escapa, para mim tudo estar perdido”, ao que o amigo Zequinha Respondeu: - “Amigo na Vida, Amigo na Morte”. E, seguiu em frente, carregando, nos ombros, o companheiro enfermo e já sem condições de caminhar. Estavam eles a poucas horas de serem fuzilados.
PERSONAGEM QUE RESISTIU A CRUELDADE
Outro personagem desta história é o sobrevivente do massacre do Buriti Cristalino e irmão de Zequinha e Otoniel, OLDERICO CAMPOS BARRETO, atual dirigente da Cooperativa Agro Mineral sem Fronteiras – CASEF, que sobreviveu a mais implacável perseguição, que talvez não tenha paralelo na história da crueldade policial brasileira, iniciada quando os órgãos repressivos brasileiro tomaram conhecimento da presença de do Capitão, em Brotas de Macaúbas até o fim da operação, no dia 17 de setembro, quando todo tipo de atrocidade foi cometida contra o povo da região, principalmente contra os brotenses da sede, e da pequena comunidade de Buriti Cristalino, contra a família Barreto, quando o patriarca, Seu José Barreto, "pai dos meninos", sofreu violações e violências absurdas, injustificáveis, como por exemplo, ter que marchar a frente do "comando da Morte" logo após, ver um dos seu filho, Otoniel morto, alvejado pelo comando com rajadas de metralhadoras, outro filho, Olderico, baleado, ensanguentado e torturado violentamente e, ter que, sob forte tortura física e psicológica, ter que marchar à frente do comando a procura de outro filho, Zequinha para que eles matassem.
QUE A SEMENTE SEJA CULTIVADA
Cinquenta anos depois, resta a certeza que as lições que aprendemos com os mártires, de fé, de amor e da coragem para lutar, são lições a serem seguidas, pois elas nos ajudam a ter forças para transformar a vida; portanto, celebrar a vida destas pessoas é atualizar e fortalecer a causa pela qual vivemos e morremos.
A vida dos mártires precisam ser lembrados sempre, para que a semente plantada pelo exemplo de suas vidas seja cultivada e frutifique.
Por Wanderley Rosa Matos
Fotos: Arquivo Wanderley Rosa Matos
Brotas de Macaúbas, 15/09/2021
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