IPUPIARA: O QUE ESTÁ POR TRÁS DA SUSPENSÃO DAS AULAS?
Em uma ação corajosa — e irresponsável, para alguns — o prefeito de Ipupiara, Ascir Leite, decretou o retorno das aulas presenciais na rede municipal. Desde quatro de abril, centenas de estudantes voltaram à sala de aula com o propósito de ver atenuado os prejuízos causados por mais de um ano distante da escola. Todavia, a resolução permissiva durou pouco; pois, como esperado, foi revogada em trinta e um de maio, tendo duração de uma semana, aplicadas às unidades escolares da sede e da Vila de Ibipetum. Possivelmente, o prazo de sete dias será estendido, ao menos se depender dos agravos trazidos pela pandemia.
A urgência em voltar com as aulas, em caráter presencial, é tida pela maioria dos governantes como algo secundário; já que o combate ao novo coronovírus exaure todos os recursos e exige para si atenção máxima. Mas, de fato, a pauta educacional carece ser discutida a fim de se encontrar saídas para contornar o problema. Nesse sentido, o supracitado prefeito lançou mão de uma estratégia ousada e condicionou o retorno com o decréscimo no número de casos de Covid no município. Ou seja, mesmo estando os docentes sem vacinação plena, e com vinte e um pacientes infectados pela cepa, a empreitada seguiu em frente.
As coisas começam a degringolar quando notamos a inexistência de um planejamento articulado capaz de antecipar os desdobramentos oriundos da pandemia e sem a firmeza de ações conjuntas que possibilitem os alunos estudarem em um cenário desfavorável. Atrelar a volta das aulas, ou a sua suspensão, somente com o aumento dos casos, beira o amadorismo. Uma Secretaria de Educação atuante precisa liderar esse processo de forma coordenada e transparente, no mínimo por meio de uma normativa densa, dando conta de responder as questões levantadas.
Há uma outra problemática nessa conjuntura também digna de reparo: a subnotificação. E aqui me volto para as ocorrências não-intencionais. Não apenas em Ipupiara, como em qualquer cidade, o número de infectados, retratado nos boletins, seguramente é inferior ao observado na vida real. Impossível é, diga-se, rastrear o total de contaminados e a localização desses e de outros pacientes assintomáticos. Portanto, o quantitativo elevado de contagiados necessita ter incidência de uma leitura mais atenta e considerar, dentro desse espectro, uma margem alongada para decidir, só então, de acordo com os critérios estabelecidos pelo governo, sobre voltar ou não as aulas.
O que foi visto em Ipupiara, com efeito, deu-se por uma tomada de decisão propositiva, porém deveras apressada. Isso se confirma pela interrupção precoce da iniciativa. Antes e depois, a comunidade escolar foi ouvida? Existe um plano coordenado para este fim? Especialistas foram consultados? Provavelmente, a negativa complementa essas indagações e é um diagnóstico importante do quão atabalhoada foi a providência de validar a ida dos estudantes à escola como se tudo estivesse em sintonia com a normalidade.
Assim, respondendo a pergunta do título do artigo, os motivos sustentados para a intermissão parcial das aulas em parte do município ipupiarense corresponde a mais pura posição servil frente aos impactos trazidos pelo novo coronavírus. Ora, se não existe um planejamento organizacional de enfrentamento e tampouco políticas públicas eficazes para garantir o ensino e a aprendizagem a contento, como o resultado poderia ser diferente? Afinal, se houvesse o mínimo de reflexão, dificilmente se proporia retornar as aulas com um quadro sanitário tão adverso.
Freando o ímpeto dos exaltados, prontos para jogarem pedra e encararem tais linhas como crítica vazia ao governo de Ascir, convido-os a um outro pensamento. Tem a ver com àquela ideia sensata de se ter prudência em ações empreendidas em tempos pandêmicos, para evitar a propagação de uma imagem distorcida do recorte apresentado pelo município de Ipupiara. O senso crítico ultrapassa as posições políticas, pois deixa um rastro de racionalidade e é exalado por cidadãos conscientes e dispostos a serem fiscalizadores, e não tolos apaixonados.
Foto Reprodução
02/06/21
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