A Câmara de Vereadores Precisa Ser Renovada
Muito se apregoa Brasil afora sobre a necessidade de renovação dos quadros políticos existentes e de uma clara reforma alicerçando o tento. No último pleito nacional, em 2018, houve um aumento de 52% em relação aos deputados eleitos de primeira viagem. Embora seja um dado favorável, no tocante, temos quase a metade do Congresso Nacional ainda dominado por velhas raposas. Obviamente, o termo em questão é depreciativo; mas não equivale à generalização estúpida. De fato, temos sim representantes competentes na seara política, de estreantes a veteranos. Ao olharmos para o Legislativo brotense, notamos o quão longe estamos da dita atualização já percebida no âmbito federal. Aqui, ter a política como profissão sempre foi a moda, perdurando, em alguns casos, por mais de vinte anos.
Para entendermos a profundidade da questão, olhemos, com atenção, os vereadores eleitos nas últimas cinco eleições. A fonte utilizada é o Tribunal Superior Eleitoral.
De 2000 a 2004, é verdade, apenas dois vereadores conseguiram a reeleição; isso corresponde a 20%. Ou seja, nesse período houve mudança de 80% nos legisladores. Seguindo, de 2004 a 2008, foram três os reeleitos contando com o regresso do senhor Zenilton. Assim, temos quatro retornos com garantia de 45% de caras conhecidas na Câmara. Já de 2008 a 2012, o cenário piora. Cinco são os remanescentes de outras eleições totalizando, apenas, 45% de renovação. Por fim, de 2012 a 2016, seis vereadores ganharam novamente deixando a Casa do Povo com míseros 33% de novidade.
Outro fato bastante chamativo é façanha do senhor Zé do Curralinho em ganhar cinco eleições consecutivas. São vinte anos à frente de um cargo eletivo confirmando, portanto, a existência do ofício político como ramo profissional. Longe de mim desabonar a vontade do nicho eleitoral o qual o reelege; só adendo para os vícios tão comum na atividade, seja para se manter ou na própria atuação parlamentar. O processo democrático permite, indefinidamente, mandatos consecutivos; e, queira ou não, a permissividade contribui com a criação de feudos e currais eleitorais; haja vista as ocorrências comumente observadas em municípios interioranos, como Brotas.
Dos nove vereadores em exercício, seis deles estão buscando um novo mandato. Sendo, dos três restantes, um vai concorrer para prefeito e dois tentarão emplacar o filho e o irmão nas suas respectivas vagas. Logo, por hipótese, corremos o risco de vermos a Câmara com renovação de 33%. Se considerarmos os entes dos candidatos de primeira leva, o número cai para 11%. Convenhamos, não é muito animador; especialmente quando analisamos o desempenho dos vereadores nos últimos quatro anos. O quadro abaixo mostra o número de projetos propostos por cada um deles e a situação das Peças. A fonte utilizada é o Arquivo da Câmara e no final dessa matéria os documentos, na íntegra, ficarão disponíveis para consulta.
Em quase quatro anos, temos vereadores sem uma única proposição de projeto. Além de fiscalizar o poder Executivo, cabe ao vereador propor iniciativas as quais melhorem a vida do povo. Mas, como mostra a imagem acima, a Câmara de Vereadores virou uma Disneylândia para alguns legisladores. E tomo o cuidado de frisar a palavra alguns justamente para evitar disseminações grosseiras. Há sim bons vereadores comprometidos e atuantes em Brotas, e eles são minoria, diga-se. Nesse sentido, é evidente a falta de cuidado do eleitor em escolher seus representantes. Concordemos, se o seu escolhido não teve a capacidade de encabeçar ao menos quatro projetos em seu mandato, fica difícil defender a reeleição do sujeito, né?
E o agravante são os recursos públicos consumidos na manutenção de um vereador improdutivo. Faça as contas. Em Brotas, paga-se, utilizando o valor de 2020, R$ 7.250,00 com salário de um vereador. Em um ano, contando o décimo terceiro, o montante é de R$ 94.250,00. Se extrapolarmos o cálculo e considerarmos os quatro anos de legislatura, chegamos em impressionantes R$ 377.000,00. E aí, te parece razoável um agente político ter essa cifra a sua disposição e não produzir nenhum projeto de lei? Chega a ser embaraçoso, para um eleitor consciente, constatar que parte da população ainda privilegia candidatos sem compromisso com sua tarefa alcançada na urna.
Em síntese, a mensagem mais importante de tudo isso é o alerta para tomarmos cuidado em quem vamos eleger no dia quinze de novembro. A renovação da Câmara é algo urgente e necessária. Não nos furtemos em empreender ações nesse sentido. Mesmo sendo tentador votar em alguém por amizade ou porque te socorreu num momento de urgência — e deixo claro que é compreensível essa gratidão, uma vez nosso povo sendo carente, usa das armas ao seu alcance para sobreviver — saibamos escolher aquele com mais ideias e desenvoltura para defendê-las, para de fato conseguir melhorias para o coletivo.
E como último lembrete, penso ser salutar escolhermos pessoas em compasso com a nossa localidade; afinal um candidato da Feira Nova, em tese, pouco se preocupará com a comunidade de Nova Santana. Contudo, vale lembrar, novamente, o imperativo da escolha do eleitor deve estar pautado no preparo do aspirante. Se no seu povoado não há bons postulantes, opte pela praça vizinha, mas evite colocar qualquer um em uma das nove cadeiras. Claro, te lembro, você pode ignorar todas essas dicas e discordar desse colunista, mas ao menos faça uma reflexão rápida e veja a viabilidade de cada frase. Assim, quando partir rumo a urna, ter a certeza do porquê da sua escolha.
PS: Agradecimento a Câmara de Vereadores por ter cedido todos os dados dessa matéria, na pessoa de Romário Campos e Eduardo Gervásio.
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Fotos da Redação
16/10/2020
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